"A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia e pelo desespero. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história, em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a consciência de ser algo mais que passagem. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar em forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da Ideia. Loucura, êxtase, logos. Regresso à infância, coito, nostalgia do paraiso, do inferno, do limbo. Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo, e métricas e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todas as faces, embora exista quem afirme que não tem nenhuma: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana!" Octavio Paz


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Tempo (ou templo) de aprender

Catedral São João Batista - Jandaia do Sul (PR)

No caminho,
ipês, paineiras, 
uma velha araucária,
hortênsias e margaridas...
companheiros de pique-esconde
da Praça do Café.
No colégio Castro Alves
a menina em seu primeiro dia de aula
impecável: 
jardineira pregueada, num azul índigo.
Brancas: 
camisa com bolso bordado a mão e meias três quartos
Fita no cabelo,
fita a capa de seu livro
novinho e encapado!
A lição:
letras e letras a desenhar
sozinhas ou de mãos dadas.
A campainha...
avisa à guria que já é hora de ir
quando então fecha seu livro de aprender.
A caminho,
Uma revoada de andorinhas 
e o cheiro de terra molhada!
Na paisagem, um exército verde e enfileirado
sobre um tapete vermelho a perder de vista!
Os sinos da torre da catedral
anunciam a benção da avó
acompanhada de bolo de milho,
biscoito de polvilho
e brevidade.
No bule, o café
plantado, colhido, torrado e moído
passado pelo coador de pano,
feito por mãos fortes, porém de afago suave
que nunca sequer desenhou letras,
juntas ou apartadas.
Mas a anciã, com sua sabedoria,
sabe partilhar,
num breve momento, com a menina,
lições de outros tempos:
rezas, histórias antigas,
causos e cantigas
... e as peraltices de outrora
testemunhadas por tão somente
bonecas de sabugo e de pano,
deixam revelar memórias
de um tempo-espaço que não cabe em si mesmo,
(pois que não é de sua natureza!).
De um tempo que não cessa em ser criado
e recriado.
Leila

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