"A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito. Isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração, respiração, exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com a ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia e pelo desespero. Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia. Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história, em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a consciência de ser algo mais que passagem. Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar em forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do real, cópia de uma cópia da Ideia. Loucura, êxtase, logos. Regresso à infância, coito, nostalgia do paraiso, do inferno, do limbo. Jogo, trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo, e métricas e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação, dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária, coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todas as faces, embora exista quem afirme que não tem nenhuma: o poema é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza de toda obra humana!" Octavio Paz


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Amor fati



Amo-te, grão de areia,
infinitesimal
destino meu!
Tu és belo,
pérola minha!
Porém, ainda diamante bruto
à espera de lapidário
que te revele o brilho ocultado.
Minha alma incandescente, incansável, indomável
arde pelo vetor que a conduzirá até a ti,
minha estrela!
Pois, toda alma bem sabe que
é no pulsar do coração,
que se manifesta na fluidez sanguínea
a sua intensidade.
E, em cada inspiração,
na diretriz vertebral dos ventos que navegam
na tão ansiada trilha
definida pela rosa dos ventos,
encontra-se a liberdade!
E em cada conexão neural,
delineia-se o sentido vital
- a um só tempo -
nas asas de um atrevido colibri,
mais veloz que a luz!
E, somente assim,
Percepção, intuição e pensamento
compõe, entre si,
uma trindade em perfeita comunhão!
Ah... a tão almejada comunhão!
Mas por ora, solidão amiga,
aprenda tu a dialogar
no idioma daqueles imprescindíveis
- de natureza serena e silenciosa -
os filhos da terra,
portadores de harmonia cósmica,
que não se fatigam em aconselhar, acalmar, apaziguar
à todos a quem deles se aproximam!
Leila

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